"Quando um amigo morre prendemo-lo com um alfinete às suas próprias máximas, às suas declarações, matamo-lo com as suas próprias armas.
Por um lado ele permanece vivo naquilo que durante a vida nos disse a nós (e aos outros), por outro lado, matamo-lo com isso mesmo. Não temos o mínimo escrúpulo (para com ele!) no que se refere às suas declarações, às suas anotações, pensei, se não temos anotações nenhumas, porque ele muito prudentemente as destruiu, então servimo-nos das declarações dele para o destruir, pensei. Pilhamos o espólio para destruir ainda mais aquele que no-lo deixou, para matar ainda mais o morto, e, se ele não nos deixou o correspondente espólio para destruir, então inventamos um, inventamos muito simplesmente declarações contra ele, etcétera, pensei."
Thomas Bernhard, O Náufrago
Por um lado ele permanece vivo naquilo que durante a vida nos disse a nós (e aos outros), por outro lado, matamo-lo com isso mesmo. Não temos o mínimo escrúpulo (para com ele!) no que se refere às suas declarações, às suas anotações, pensei, se não temos anotações nenhumas, porque ele muito prudentemente as destruiu, então servimo-nos das declarações dele para o destruir, pensei. Pilhamos o espólio para destruir ainda mais aquele que no-lo deixou, para matar ainda mais o morto, e, se ele não nos deixou o correspondente espólio para destruir, então inventamos um, inventamos muito simplesmente declarações contra ele, etcétera, pensei."
Thomas Bernhard, O Náufrago
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