sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

At the Entering of the New Year

I
(OLD STYLE)

Our songs went up and out the chimney,
And roused the home-gone husbandmen;
Our allemands, our heys, poussettings,
Our hands-across and back again,
Sent rhythmic throbbings through the casements
On to the white highway,
Where nighted farers paused and muttered,
"Keep it up well, do they!"

The contrabasso's measured booming
Sped at each bar to the parish bounds,
To shepherds at their midnight lambings,
To stealthy poachers on their rounds;
And everybody caught full duly
The notes of our delight,
As Time unrobed the Youth of Promise
Hailed by our sanguine sight.

II
(NEW STYLE)

We stand in the dusk of a pine-tree limb,
As if to give ear to the muffled peal,
Brought or withheld at the breeze's whim;
But our truest heed is to words that steal
From the mantled ghost that looms in the gray,
And seems, so far as our sense can see,
To feature bereaved Humanity,
As it sighs to the imminent year its say:—

"O stay without, O stay without,
Calm comely Youth, untasked, untired;
Though stars irradiate thee about
Thy entrance here is undesired.
Open the gate not, mystic one;
Must we avow what we would close confine?
With thee, good friend, we would have converse none,
Albeit the fault may not be thine."

Thomas Hardy

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

The moon, the blossoms -
forty-nine years I've wasted
walking beneath them!

Kobayashi Issa

Gustav Mahler - Das Lied Von Der Erde



Leonard Bernstein
Israel Philharmonic Orchestra
Christa Ludwig - Contralto
René Kollo - Tenor

Annus Mirabilis

Sexual intercourse began
In nineteen sixty-three
(which was rather late for me) -
Between the end of the Chatterley ban
And the Beatles' first LP.

Up to then there'd only been
A sort of bargaining,
A wrangle for the ring,
A shame that started at sixteen
And spread to everything.

Then all at once the quarrel sank:
Everyone felt the same,
And every life became
A brilliant breaking of the bank,
A quite unlosable game.

So life was never better than
In nineteen sixty-three
(Though just too late for me) -
Between the end of the Chatterley ban
And the Beatles' first LP.

Philip Larkin

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Uma Pequenina Luz

Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumiére
just a little light
una piccola…em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a advinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça
Brilhando indefectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
Indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
Como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
No meio de nós.
Brilha.

Jorge de Sena

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

The Field - A Paw In My Face

Extracto do livro Extinção de Thomas Bernhard:
"Nós deixamo-nos muitas vezes arrebatar de tal modo por um exagero, disse eu mais tarde a Gambetti, que tomamos depois esse exagero pela única realidade lógica e já de modo algum nos apercebemos da verdadeira realidade, só do exagero desmedidamente levado às alturas. Com este fanatismo do exagero sempre eu me satisfiz, disse eu a Gambetti. É por vezes a única possibilidade, designadamente sempre que fiz do fanatismo do exagero a arte do exagero, de me salvar da miséria do meu estado de espírito, do meu tédio intelectual, disse eu a Gambetti. Adestrei de tal modo a minha arte do exagero que me posso nomear à vontade o maior artista do exagero que eu conheço. Não conheço mais nenhum. Niguém levou assim tão longe a sua arte do exagero, disse eu a Gambetti e, logo a seguir, que eu, se me perguntassem uma vez sem rodeios o que é que eu sou verdadeiramente e no íntimo secreto, só poderia responder, o maior artista do exagero que eu conheço. Em seguida Gambetti desatou outra vez a rir com o seu riso de Gambetti e com esse seu riso de Gambetti me contagiou e assim rimos os dois no Pincio, nessa tarde, como nunca antes tínhamos rido. Mas também esta frase é naturalmente um exagero, penso eu agora, enquanto a escrevo, e uma característica da minha arte do exagero. Nessa altura disse eu a Gambetti que a arte do exagero era uma arte da superação, de superação da existência no meu sentido, disse eu a Gambetti. Por meio do exagero, e afinal da arte do exagero, aguentar a existência, disse eu a Gambetti, torná-la possível. Quanto mais vou avançando na idade, mais me refugio na minha arte do exagero, disse eu a Gambetti. Os grandes superadores da existência foram sempre grandes artistas do exagero, seja o que for que tenham sido, que tenham criado, Gambetti, eles foram-no afinal só pela sua arte do exagero. O pintor que não exagera é um mau pintor, o músico que não exagera é um mau músico, disse eu a Gambetti, como o escritor que não exagera é um mau escritor, podendo também acontecer que a verdade do exagero consista em tudo atenuar, nesse caso temos de dizer, ele exagera a atenuação e faz assim da atenuação exagerada a sua arte do exagero, Gambetti. O segredo da grande obra de arte é o exagero, disse eu a Gambetti, o segredo do grande filosofar é esse também, a arte do exagero é de modo geral o segredo do espírito, disse eu a Gambetti."

SOLITUDE at the end of the world from carlos casas on Vimeo.